terça-feira, 22 de março de 2011

Os vinhos são para beber, não são para guardar

Há pessoas que guardam ao longo da vida magníficas frasqueiras que um dia (não sabem quando) beberão.
Ora os vinhos, por melhores que sejam, não são jóias, mas líquidos vivos, orgânicos, cuja conservação e bom envelhecimento dependem de muitos factores que o enófilo não controla. É uma situação parecida com a daquelas ou daqueles que se apaixonam, mas são incapazes de o declarar à pessoa amada. Nas garrafeiras é igual: deixam a sua paixão pelo vinho dentro da garrafa, "eternamente". Ou são como o José Matias do conto de Eça de Queirós: basta-lhes a paixão, perdão, a colecção de garrafas, mas não as desfrutam.
Para esses só tenho um conselho: antes saudades do que já se bebeu, do que desgostos pelo que se guardou.
Desgostos, sim, que é o que normalmente acontece a quem abre vinhos velhos que já deveriam ter sido bebidos. Ou a quem encontra o amado ou amada muitos anos depois...
E se a doença do coleccionismo for incurável, sempre se podem guardar as garrafas... vazias.

J. A. Gonçalves Guimarães

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